Com ocasião das eleições legislativas portuguesas, o jornal barcelonês La Vanguardia tem dedicado o seu suplemento Culturas (quartas-feiras) ao "mistério português". Num interessante artigo, Gabriel Magalhães reflecte sobre a identidade portuguesa e sobre o passado e o futuro de Portugal.
Confesso que numa primeira leitura achei o texto um pouco redutivo, mas depois pensei que talvez essas reduções são inevitavéis. As dimensões duma crónica jornalística obrigam a reduzir os argumentos ao essencial; existe a necessidade, também, de falar daquilo estrictamente particular para passar depois ao mais geral e, finalmente, julgo que o olhar dum indivíduo é sempre redutivo.
Como estrangeira, concordo com quase todas as afirmações que Magalhães faz no seu artigo: vejo desde a distância o ser português, em geral, da mesma maneira. Não concordo, no entanto, com a sua opinião sobre a falta de orgulho nacional. Sempre pensei que o português, apesar de estar voltado para a Inglaterra e a França, sentia-se orgulhoso do seu país. Ao menos é assim como muitos portugueses se definem. E é assim como se manifesta algum dos comentaristas espontâneos da versão online do artigo.
Também não comungo com a ideia da "mentalidade aristocrática do indigente português", fruto da sua possível timidez. Já tive uma experiência de voluntariado em Portugal e conheci a pobreza do país, da mais 'digna' à mais extrema. Para mim, os indigentes são iguais em qualquer lugar do mundo: todos tristes, todos vencidos. Pode ser de outra maneira?