23/10/2010

Os verdes e vorazes anos leitores

Foto: Casa de G. Bassani em Ferrara, GN, 2010

Acho que não há leituras como aquelas dos verdes anos para deixar uma marca indelével na memória. E digo memória, mas talvez não seja a palavra adequada, porque ás vezes nem recordamos a intriga. No entanto, não podemos esquecer a impressão que certos livros deixaram no nosso espírito, como já disse aqui a propósito de Clarice Lispector.

Na primaveira passada viajei a Bolonha, onde inesperadamente surgiu a possibilidade de visitar Ferrara, que não fica muito longe. Quando cheguei à cidade, diversos sentimentos se misturavam no meu ânimo: a satisfação de estar numa cidade belíssima e de conhecer o microcosmo de Giorgio Bassani, de quem li a obra completa no final da minha adolescência, e certo fastídio por não ter previsto este deslocamento e não tê-lo relido, em consequência, para localizar os lugares mais emblemáticos dos seus romances.  É sempre assim: flagelo-me durante as viagens por não ter tido muito tempo para prepará-las melhor...

Voltando a Bassani, e para quem ainda não o conheça, devo dizer que é um autor magnífico, capaz de descrever magistralmente a vida duma pequena cidade italiana e o drama dos seus habitantes judeus. Recomendo começar com O jardim dos Finzi-Contini, melancólica evocação dum certo estilo de vida e da indignidade das leis raciais na Itália. Quer dizer, a desaparição de todo um mundo com a chegada da Segunda Guerra Mundial. Existe também um filme baseado nesta obra e dirigido por Vittorio de Sica.

Enquanto passeava pela cidade, um pouco desiludida por recordar únicamente o nome duma rua, o Corso Ercole I d'Este, topei casualmente com una casa pintada de uma bonita cor amarela e uma placa na fachada... Quando me aproximei dessa placa, a adolescente de dezassete anos que fui voltou do passado e exclamou quase a gritar: É a casa de Giorgio Bassani! Tanta alegria espontânea satisfez visívelmente o cidadão ferrarês que caminhava perto de mim, e que sorriu surpreso com cara de estar a pensar que os turistas nem sempre são essas hordas bárbaras e iletradas do lugar-comum.

Tudo isto para dizer como é de bom conectar com aquele entusiasmo, aquele deslumbramento ingénuo da primeira juventude diante dos bons livros... 

06/10/2010

Clarice nos meios

Hoje, no suplemento Cultura/s do La Vanguardia fala-se de Clarice Lispector.