13/11/2012

Diálogos sobre a cultura portuguesa



No marco da X Mostra Portuguesa, hoje se iniciam em Barcelona os diálogos do ciclo Diálogos sobre a Cultura Portuguesa, que já incluiram uma exposição, cinema documental e um concerto e degustação de produtos portugueses. 

Os interlocutores do primeiro diálogo, que tenho o prazer de moderar, são a Dra. Helena Tanqueiro (responsable do Instituto Camões em Barcelona) e o cônsul de Portugal em Barcelona, Dr. João Ribeiro de Almeida.

O eixo da conversa centrar-se-á nas literaturas e culturas contemporâneas portuguesas.

06/03/2012

Tempo

Tempo fugidio... Quando é que vou te apanhar?

05/10/2011

Antero revisitado

Às vezes, o destino teima em te apresentar a mesma face durante anos, ciclos inteiros da própria vida: no meu caso, o rosto terrível da doença das pessoas amadas, e por duas vezes o rosto miserável da burocracia sanitária dum país em crise económica e moral.

Nestes momentos, penso nas palavras que Antero de Quental dedicou à decadência do Império Romano (em Causas da decadência dos povos peninsulares) e acho que são perfeitamente traduzíveis à realidade dos países do Sul de Europa:

Uma sociedade gasta, que se aluía, mas que no seu aluir, se debatia, lutava, perseguia para conservar os seus privilégios, os seus preconceitos, os seus vícios, a sua podridão.

Enfim, enquanto não conseguirmos sair do poço onde nos deitaram, restam-nos os territórios conhecidos  da cultura e do activismo social, quando menos por agora. 

13/07/2011

Fado a tres vozes e em duas línguas



Lídia Pujol, a voz mais cristalina que conheço, Mayte Martín e Dulce Pontes interpretam Lágrima em catalão e português.

19/05/2011

Um inglês em Portugal

Mais um olhar estrangeiro sobre os portugueses: Barry Hatton, correspondente inglês em Portugal há mais de vinte anos, publica Os portugueses no Clube do Autor.

Interessante entrevista com o autor em Antena 1 aqui.

17/04/2011

Guia de conversa catalão - português


Há uns meses já está nas livrarias o meu guia de conversa catalão - português. Espero que seja a melhor ferramenta de comunicação para os viajantes catalães aos países de língua portuguesa.

09/11/2010

Ubi sunt

Foto: Buida-sacs, G.N., 2010

Onde estão os rios da nossa infância?

23/10/2010

Os verdes e vorazes anos leitores

Foto: Casa de G. Bassani em Ferrara, GN, 2010

Acho que não há leituras como aquelas dos verdes anos para deixar uma marca indelével na memória. E digo memória, mas talvez não seja a palavra adequada, porque ás vezes nem recordamos a intriga. No entanto, não podemos esquecer a impressão que certos livros deixaram no nosso espírito, como já disse aqui a propósito de Clarice Lispector.

Na primaveira passada viajei a Bolonha, onde inesperadamente surgiu a possibilidade de visitar Ferrara, que não fica muito longe. Quando cheguei à cidade, diversos sentimentos se misturavam no meu ânimo: a satisfação de estar numa cidade belíssima e de conhecer o microcosmo de Giorgio Bassani, de quem li a obra completa no final da minha adolescência, e certo fastídio por não ter previsto este deslocamento e não tê-lo relido, em consequência, para localizar os lugares mais emblemáticos dos seus romances.  É sempre assim: flagelo-me durante as viagens por não ter tido muito tempo para prepará-las melhor...

Voltando a Bassani, e para quem ainda não o conheça, devo dizer que é um autor magnífico, capaz de descrever magistralmente a vida duma pequena cidade italiana e o drama dos seus habitantes judeus. Recomendo começar com O jardim dos Finzi-Contini, melancólica evocação dum certo estilo de vida e da indignidade das leis raciais na Itália. Quer dizer, a desaparição de todo um mundo com a chegada da Segunda Guerra Mundial. Existe também um filme baseado nesta obra e dirigido por Vittorio de Sica.

Enquanto passeava pela cidade, um pouco desiludida por recordar únicamente o nome duma rua, o Corso Ercole I d'Este, topei casualmente com una casa pintada de uma bonita cor amarela e uma placa na fachada... Quando me aproximei dessa placa, a adolescente de dezassete anos que fui voltou do passado e exclamou quase a gritar: É a casa de Giorgio Bassani! Tanta alegria espontânea satisfez visívelmente o cidadão ferrarês que caminhava perto de mim, e que sorriu surpreso com cara de estar a pensar que os turistas nem sempre são essas hordas bárbaras e iletradas do lugar-comum.

Tudo isto para dizer como é de bom conectar com aquele entusiasmo, aquele deslumbramento ingénuo da primeira juventude diante dos bons livros... 

06/10/2010

Clarice nos meios

Hoje, no suplemento Cultura/s do La Vanguardia fala-se de Clarice Lispector.

30/09/2010

Dia Internacional da Tradução

O que é que devem estar a pensar os tradutores/as neste dia? Sem medo de errar, acho que a maioria de nós deve estar a reflectir sobre o mesmo: o escasso reconhecimento e a invisibilidade da nossa lavor, as míseras tarifas que sofremos, os prazos de tempo impossíveis com os que trabalhamos ... Os agravos são inúmeros: eram muitos e a crise precarizou-nos ainda mais. Neste momento, mais que outra coisa, traduzir é uma vocação. Senão, como suportar as incertezas de uma ocupação mal paga e mal considerada?

Sem dúvida, o tradutor/a procura mais alguma coisa no seu trabalho, precisa de se exprimir, de 'reescrever' o texto que chega às suas mãos. Traduzir é, como diz Claudio Magris, una maneira de escrever: Naquela ocasião começou para mim alguma coisa nova: traduzir converteu-se propriamente numa maneira de escrever. Foi como se houvesse entrado numa dimensão que tenia a ver com a minha sintaxe, com a minha forma de ser. (in La traduzione d'autore, Pisa University Press, 2007).

01/09/2010

O rio de Heráclito o Obscuro e eu



Ainda que gosto imenso do Atlântico que banha as costas portuguesas, não posso deixar passar muito tempo sem visitar o Mediterrâneo, o mar por onde navega a minha alma. O ano passado começava este blog depois de voltar de mais uma viagem pelo Mare Nostrum. Este ano não foi diferente...

Desta vez, porém, em lugar de sentir a plenitude mediterrânica que vivo em cada uma destas minhas 'incursões', a visita a Éfeso (e as minhas curtas férias) me levaram a pensar em um dos seus filhos mais conhecidos: Heráclito. E com ele, esse rio que nunca mais vai ser o mesmo... Esse 'tudo flui, nada permanece' que me custa tanto aceitar.

Me diga alguém como suportar a vertigem que produz esse tempo que foge!

28/07/2010

Dia grande na Catalunha

Hoje, o Parlamento Catalão proibiu as touradas.
Finalmente vai acabar essa tortura indecente.

30/06/2010

Escrita criativa

Estou a ultimar um curso de escrita criativa que vou dar neste mes de julho. Enquanto andava a seleccionar o material que quero comentar com os meus alunos (todos eles professores e professoras) reencontrei esta frase do grande Gianni Rodari. Tomara que qualquer dia seja uma realidade.

"Todos os usos da palavra a todos" parece um bom lema, sonoramente democrático. Não para que todos sejam artistas, mas para que ninguém seja escravo.

Gianni Rodari, Gramática de la Fantasia

24/03/2010

Morreu José Maria Nunes



Traduzo, escrevo, reviso... Trabalho e mais trabalho, mas não vou me queixar do que agora é um luxo. Conto isto porque só posso dedicar uns minutos a este post, os imprescindíveis para dizer que morreu José Maria Nunes, cineasta de origem portuguesa, artífice da Escola de Barcelona e considerado precursor da Nouvelle Vague. Um criador independente: um criador com todas as letras. O vídeo de Youtube dá-nos também uma ideia da sua humanidade.

16/02/2010

Grandes momentos luso-catalães I

Acho que vou inaugurar estes grandes momentos luso-catalães com uns excertos do poema À Catalunha de Augusto Casimiro (Ed. Renascença Portuguesa, Porto, 1914).

Catalunha! Eu não sei.... À beira mar Atlântico,
Julgo ouvir tua voz dentro de mim cantar!
E é a tua voz que em mim ergue de novo um cántico
Que em teu regaço alguém decerto há de escutar!

E ante o Futuro, Irmã, que é nosso, e nesta hora
De sonhos, sentirás, trémula de esperança,
Saudosa, esta voz numa perpétua aurora,
Que a aliança de Amor é a melhor aliança!

04/02/2010

O Lusitano de Barcelona

Conhecer a Rosalía merecia um bon pano de fundo. A Rosalía é a filha da María, boa amiga e companheira de viagem: juntas iniciamos a aventura do doutoramento e juntas estamos a fazer também, infelizmente, a terrível travessia do luto pela morte do pai. Por essas coisas do destino as duas perdemos o pai da mesma doença e num breve espaço de tempo. Com ela, às vezes não é preciso nem falar....

Voltando ao cenário do nosso último encontro: os lusófilos temos agora em Barcelona um lugar bonito e acolhedor para degustar umas natas de Belém, um bom vinho do Porto e mais algumas delicatessen irresistíveis. Em O Lusitano, no coração do entranhável Poblenou, na rua Castanys 23, é possível matar saudades da maneira mais doce.

20/01/2010

Apetece dizer uma palavra


Sempre pensei que na vida real literatura e política casam mal: uma reclama sinceridade e a outra impostura, uma precisa de solidão e a outra de banhos de multidões. Chama-me a atenção por isso que num momento tão complicado para as ideologias e tão pouco propício para idealismos, Manuel Alegre volte a  ser candidato às presidenciais. Não consigo compreender como ainda não tem ficado desiludido com esse jogo de fingimentos e interesses. Se é assim, é de admirar.  No seu site diz que não acredita sequer na literatura... E pode acreditar na política? Apetezia-me ouvir os seus porquês.

04/01/2010

Mais um ano


Nestes primeiros dias do ano apanhou-me a saudade enquanto andava a fazer a minha lista de boas resoluções. É o segundo Natal sem o meu pai e as coisas não são como eram dantes (e provavelmente nunca mais vão ser...). Nesse estado de espírito não pude evitar pensar na sociedade que nos trouxe o século XXI: muito de bom, claro, mas também um monte de ideias, de atitudes e de práticas negativas que, essas sim, talvez vão ficar muito tempo.

Parece que os valores deixaram de ter importância, venceu a banalização. Também não importam o conhecimento e a experiência, prefere-se a imagem e o marketing. O trabalho bem feito é uma excepção, e não a regra. A criatividade já viveu momentos melhores: agora é só reciclá-los e reutilizá-los. Para não falar em coisas ainda mais importantes: da indiferença para com a dor alheia, por exemplo. Mudamos de século mais não nos fizemos mais humanos. Ao contrário, a barbárie está a volver com mais força em alguns momentos. Tristemente poderia continuar e não diria nada que vocês não saibam, mas vamos ficar por aqui e tentar encarar o próximo ano com esperança.

Espero que as boas resoluções das boas pessoas voltem a incluir tudo aquilo que nos faz melhores, mais sábios e mais autênticos. Feliz 2010!

24/12/2009

17/12/2009

Amanhã III: O 'eu não vou ser capaz" segundo Irene Lisboa



Gosto de escritoras portuguesas; são muitas e boas. De Irene Lisboa admiro a sensibilidade e o talento para fazer literatura com as pequenas coisas. Apesar de ter nascido em 1892, e acho que sem aspirar a sê-lo, foi uma mulher 'moderna', entregue à sua própria vida.

Nestes dias que ando a reflectir sobre o que nos impede de escrever, lembrei-me dumas palavras de Irene Lisboa em Solidão que poderiam ser subscritas por muitos de nós a propôsito de qualquer âmbito da vida. São essas frases um pouco vazias de conteúdo real que querem descrever uma pretendida incapacidade e que nos servem na realidade para não ter que tentar sequer fazer aquilo que gostariamos, para anular a nossa vontade de criar seja o que for. Felizmente, a escritora não as levou à letra e chegou a contradizer as suas declarações iniciais.

Eis aqui as 'escusas' de Irene:

Verdadeiras novelas é que não posso nem sei fazer. Julgo que para se arquitectarem entrechos romanescos com certa lógica e um sentido contínuo de vida, nos devemos sentir espectadores, desinteressados espectadores do mundo dos outros, e até das nossas próprias ficções! Eu não sou assim tão isenta e desapaixonada. E não tenho fôlego... Sempre me pareceu admirável, mas estranho a mim própria, às minhas inclinações, o poder de análise do bom novelista, a sua análise serena e lúcida.  (de Solidão, ed. Presença, Lisboa, 1992, p. 23).

16/12/2009

Amanhã II: O bloqueio segundo Eugénio de Andrade


Por enquanto sigo na mesma: vencer bloqueios e procrastinações. E digo isto aqui, publicamente, para ter um compromisso real para dominá-los. Se não conseguir, reclamem por favor.

Para superar tamanho desafio, entre outras coisas, leio vozes amigas, companheiras da mesma fadiga. Poucos autores tem mostrado tão bem como Eugénio de Andrade o medo, a tensão, a luta diante da folha (leiase o ecrã) em branco:

Essa folha aí. Tão branca que nem a neve é assim fria. Aproximo os dedos numa espécie de carícia, tentando atenuar, diluir tanta hostilidade, mas logo recuam tocados pelo medo. É tão difícil. Porque essa brancura queima, arde silenciosa num fogo que ninguém vê. [...] De súbito, os dedos distendem-se, saltam; no seu movimento de falcão já não acariciam, antes rasgam, dilaceram, prosseguem sem largar a presa uma luta onde não há tréguas, vão deixando na neve sinais da sua presença, ora triunfante ora aflita, por vezes quase morta.

É mesmo assim.

15/12/2009

Amanhã I: De procrastinações e bloqueios


Leio que a incapacidade para escrever significa que o eu inconsciente veta o programa estabelecido pelo ego consciente, ou seja, uma parte do escritor, que quer escrever, há de lutar continuamente contra a outra parte, que não o permite (Nelson, Victoria, On Writer's Block). Terrível, não é? Acho que a procrastinação --esse transferimento da realização dalguma coisa para o futuro-- deve ser a miséria de boa parte dos bloggers que não conseguem actualizar o seu blog com uma frequência razoável. Eu própria neste último mês: quero, quero.... mas faço amanhã. Os bloggers perpetuamente bloqueados. Interessante, e perigosa, cercania entre block (bloqueio) e blog.

Escrever é um acto que ajuda a organizar o raciocínio, permite lançar luz sobre aquilo que é escuro... e é também uma actividade lúdica, criativa, libertadora. ¿Por quê nos negar então um momento de claridade ou de prazer? Nelson pensa que esse problema esconde o medo de amadurecer e de chegar a ser eficaz. Concordo plenamente com essa opinião: é uma espécie de sofisticada forma de autoboicote.

Adiar permite não ter que se enfrentar a possibilidade de fracassar ou de não cumprir as nossas expectativas.

Aprazar impede-nos desfrutar das nossas possibilidades e potencialidades actuais.

Pospor significa deixar para um hipotético futuro (que se calhar nunca vai chegar) a oportunidade de gozar hoje e aqui.

Procrastinação é palavra mesquinha.

15/11/2009

Clarice na memória

Eu tinha dezassete ou dezoito anos. Não me lembro da maneira como Clarice Lispector chegou à minha vida, mas o que não posso esquecer é a forte impressião que me produz a leitura do seu livro Perto do coração selvagem. Acho que poucas leituras marcaram tanto a minha juventude.

03/11/2009

De Mar a Mar - Romance e História




O dia 23 de novembro vão ter lugar no Ateneu Barcelonès de Barcelona as jornadas “Novela e historia” [Romance e história].
Este encontro é uma iniciativa do Instituto Camões e do Instituto Cervantes e vai contar com a participação dos autores: María Pilar Queralt del Hierro, Miguel Real, Maria de Fátima Marinho, Miguel Sousa Tavares, Ignacio Martínez de Pisón y Fernando Martínez Laínez. Os moderadores das mesas-redondas vão ser Sergi Dória e Jordi Gracia.


Toda a informação em:  http://demaramar09.blogspot.com/

26/10/2009

Traduzir

Hoje encontrei uma boa definição daquilo que é traduzir. No livro de conversas Les yeux ouverts, Marguerite Yourcenar diz que o tradutor parece-se com alguém que está a fazer a mala. A mala está aberta à sua frente: pega num objecto e põe-no na mala, depois julga que talvez outra coisa seria melhor, então retira o objecto, mas pensa um pouco e volta a colocá-lo porque acha que é imprescindível. Fantástica imagem do tradutor à procura da palavra exacta.

21/10/2009

Orgia literária

Descobri um bom site de literatura (com artigos, entrevistas, etc.): http//orgialiteraria.com. Nada a ver com a superficialidade com que se trata às vezes a cultura na net.

06/10/2009

Morreu Mario Merlino




Ao voltar das férias tomei conhecimento, com grande sobressalto, da morte dum dos mais importantes tradutores de português: Mario Merlino. Ainda que não o conhecesse pessoalmente, sentia uma grande simpatia por ele. Tradutor de Lobo Antunes, Eça de Queirós, Clarice Lispector, Jorge Amado, etc, o seu trabalho com as palavras e a sua labor em pró do reconhecimento do tradutor não podiam ser alheios a ninguém minimamente comprometido nesta profissão. Além dessa afinidade, compartilhei com o Mario a vivência simultânea de traduzir tres livros de Alice Vieira: ele para o espanhol e eu para o catalão.  Saber que os dois estávamos a enfrentar o repto de re-criar os mesmos textos intraduzíveis literalmente irmanou-me com ele. Foram dias em que andamos à procura de rimas e jogos de palavras nas nossas línguas respectivas. Foram dias divertidos. Tinha só sessenta e um anos; a sua morte foi duplamente injusta.