15/09/2009

Comboio nocturno para Lisboa

Estou a ler Comboio nocturno para Lisboa de Pascal Mercier, e o que tenho lido até agora me faz pensar que é um bom romance. Confesso que quando achei que tinha visto a palavra Lisboa naquela capa longínqua, cruzei o corredor da livraria e fui direito até ao livro.

A palavra Lisboa é atraente, tem alguma coisa de mágico, sobretudo para quem a conhece e gosta dela, claro. Há que dizer que o número dos que gostam dela rivaliza com o daqueles que a detestam. Conheço espécimes dos dois géneros. E utilizam argumentos igualmente arrebatados. Eu sou daquelas pessoas que viajaram uma vez a Lisboa e já a amaram para sempre. Pronto, parece uma afirmação um pouco pires, mas é assim. [E aqui paro e reflicto porque nunca sei se conheço bem as nuanças da palavra 'pires'. Por exemplo, uma canção romântica até ao ridículo é pires?]

Gosto imenso de Lisboa e não posso subtrair-me ao apelo do seu nome, seja nela capa dum livro, numa canção, num filme, numa marca qualquer. Não podia deixar de comprar, em consequência, o livro de Mercier. De facto, Gregorius, o protagonista do livro, vive uma coisa muito parecida com a minha reacção perante a palavra Lisboa: ele fica literalmente fascinado pela sonoridade do português que fala uma mulher e a sua vida muda a partir desse momento. E não posso contar mais nada porque ainda não passei daí.

Essa incipiente relação do Gregorius com a mulher portuguesa me fez pensar imediatamente no filme Dans la ville blanche de Alain Tanner, que eu vi na minha mais tenra idade. Vi o filme e decidi que, quando puder, ia ir conhecer essa cidade branca. Simplificando muito, o Bruno Ganz desembarca em Lisboa, num momento da sua vida que adivinhamos difícil, e conhece uma mulher portuguesa pela que fica apaixonado. Acho que tenho ainda uma gravação do filme, vou voltar a vê-lo. Quero saber se aguenta o passo do tempo. Na minha memória guardo a impressão dum filme belo e poético. Gostava de poder mantê-la.

O título do livro de Mercier faz lembrar também aquele comboio de nome profundamente sugestivo: o Lusitania Exprés, que desapareceu um tempo e parece que agora vai voltar. Nunca o apanhei por uma questão práctica: faz o trajecto Madri-Lisboa, e eu moro em Barcelona. Uma noite, com a minha amiga Malén, lisboófila como eu, tentei apanhá-lo em Cáceres, mas estava lotado. O revisor ofereceu-me viajar no bar, mas a comodidade pôde, nessa ocasião, mais que a poesia. Se voltar, vou tentar apanhâ-lo alguma vez, em honra do mistério do seu nome.

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