04/09/2009

Latas de sardinhas















Há poucas semanas visitei a Terra Alta, o território onde teve lugar a terrível Batalha do Ebro da Guerra Civil Espanhola. Surpreendentemente, bastaram só uns passos por uma antiga trincheira para encontrar as testemunhas da realidade mais dura e prosaica do dia a dia daquela guerra: latas de sardinhas. Suponho que estos achados, depois de 70 anos, não são fruto do acaso. Devem ser os efeitos secundários da acção de "procuratesouros" equipados com detectores de metais, que desenterram e depois rejeitam tudo o que não sejam --julgo eu-- peças de artilharia, insígnias... Até a primeira lata de sardinhas, eu pensava que estava numa trincheira, pensava nisso, não me sentia numa trincheira. A lata, como a madalena de Proust, com a sua comovedora imediação, colocou-me em situação: ali viveram pessoas durante meses nas condições mais inumanas, e comiam latas de sardinhas.... Ontem à noite, relendo a Autópsia de um mar de ruínas de João de Melo, voltei a pensar nas latas de sardinhas. Também nas que deviam comer aqueles rapazes portugueses lá na África enquanto pensavam --como os do Ebro-- como foi que acordaram nesse trágico absurdo.

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