Gosto de escritoras portuguesas; são muitas e boas. De Irene Lisboa admiro a sensibilidade e o talento para fazer literatura com as pequenas coisas. Apesar de ter nascido em 1892, e acho que sem aspirar a sê-lo, foi uma mulher 'moderna', entregue à sua própria vida.
Nestes dias que ando a reflectir sobre o que nos impede de escrever, lembrei-me dumas palavras de Irene Lisboa em Solidão que poderiam ser subscritas por muitos de nós a propôsito de qualquer âmbito da vida. São essas frases um pouco vazias de conteúdo real que querem descrever uma pretendida incapacidade e que nos servem na realidade para não ter que tentar sequer fazer aquilo que gostariamos, para anular a nossa vontade de criar seja o que for. Felizmente, a escritora não as levou à letra e chegou a contradizer as suas declarações iniciais.
Eis aqui as 'escusas' de Irene:
Verdadeiras novelas é que não posso nem sei fazer. Julgo que para se arquitectarem entrechos romanescos com certa lógica e um sentido contínuo de vida, nos devemos sentir espectadores, desinteressados espectadores do mundo dos outros, e até das nossas próprias ficções! Eu não sou assim tão isenta e desapaixonada. E não tenho fôlego... Sempre me pareceu admirável, mas estranho a mim própria, às minhas inclinações, o poder de análise do bom novelista, a sua análise serena e lúcida. (de Solidão, ed. Presença, Lisboa, 1992, p. 23).
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