28/09/2009

Ser português

Com ocasião das eleições legislativas portuguesas, o jornal barcelonês La Vanguardia tem dedicado o seu suplemento Culturas (quartas-feiras) ao "mistério português". Num interessante artigo, Gabriel Magalhães reflecte sobre a identidade portuguesa e sobre o passado e o futuro de Portugal.

Confesso que numa primeira leitura achei o texto um pouco redutivo, mas depois pensei que talvez essas reduções são inevitavéis. As dimensões duma crónica jornalística obrigam a reduzir os argumentos ao essencial; existe a necessidade, também, de falar daquilo estrictamente particular para passar depois ao mais geral e, finalmente, julgo que o olhar dum indivíduo é sempre redutivo. 

Como estrangeira, concordo com quase todas as afirmações que Magalhães faz no seu artigo: vejo desde a distância o ser português, em geral, da mesma maneira. Não concordo, no entanto, com a sua opinião sobre a falta de orgulho nacional. Sempre pensei que o português, apesar de estar voltado para a Inglaterra e a França, sentia-se orgulhoso do seu país. Ao menos é assim como muitos portugueses se definem. E é assim como se manifesta algum dos comentaristas espontâneos da versão online do artigo.

Também não comungo com a ideia da "mentalidade aristocrática do indigente português", fruto da sua possível timidez. Já tive uma experiência de voluntariado em Portugal e conheci a pobreza do país, da mais 'digna' à mais extrema. Para mim, os indigentes são iguais em qualquer lugar do mundo: todos tristes, todos vencidos. Pode ser de outra maneira?




2 comentários:

  1. Só para lhe dizer, minha cara, que tristemente constato que diz "Num interessante artigo, Gabriel Magalhães reflecte sobre a identidade portuguesa e sobre o passado e o futuro de Portugal." Sabe, minha cara. Em Espanha, seja em Vigo ou em Barcelona, os relógios marcam a mesma hora. Mas quando os de Barcelona vêem cair a noite, ainda os de Vigo se deixam queimar esticados na praia a apanhar Sol. Por isso, parece-me que aqui se come à mesma HORA SOLAR que se come em Espanha. Simplesmente, os relógios (por convenção humana!) decidem que Vigo (que, embora sendo Espanha, deveria ter o mesmo Fuso Horário que Portugal) tem uma hora mais. Depois, comemos ao mesmo tempo só que em Portugal, as lojas fecham às 13 horas... E em Espanha, fecham às 13:30 ou 14 horas... Claro. Aqui abrem às 15:00 e em Espanha às 16:00.. Uma vez mais claro. Estamos a desempenhar as nossas funções vitais ao mesmo tempo. O que se passa é simplesmente uma convenção de hora determinada por quem decide... Será que um dia teremos toda a Europa a uma só hora. Se tomássemos por referência a Espanha (medida de todas as culturas propalada por esse senhor que até a hora de comer dos portugueses critica!) num dado dia (imaginável apenas!)em que todos os europeus despertassem, por exemplo, às 9 horas da manhã para ir para a escola, os habitantes da Austria ou da Turquia estariam já com o Sol a pique e com o almoço na mesa! Assim, uns estariam a meio da noite e outros a meio do dia... Enfim. o que este senhor precisava era de BEBER pouco de relativismo cultural em vez de umas "cañas"...

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  2. Cara Fátima,
    Em primeiro lugar, agradeço o tempo que dedicou ao comentário. É bom saber que não estou a falar sozinha! Se olhar o meu breve perfil, vai ver que não posso ser suspeita precisamente de espanholismo. E se uma razão tem este blogue é a minha lusofília. Comprovo com surpresa que G. Magalhães tem ferido muitas sensibilidades portuguesas. O meu ponto de partida para comentar esse artigo foi que não é --e acho que o autor não pretende ser-- um ensaio profundo, um 'eduardo lourenço' por exemplo. É uma crónica e, se não me engano, Magalhães só quer fazer uma aproximação ao feitio português. Julgo que sempre é interessante reflectir sobre nós próprios, não acha? E como já disse, isso só se pode fazer com uma certa redução. Todos iguais, mas todos diferentes. E acho essa justamente a graça. Volte sempre!

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